segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A Redenção de Cam




Autor Modesto Brocos
Data 1895
Técnica Óleo sobre tela
Dimensões 199  × 166
Localização Museu Nacional de Belas Artes,
Rio de Janeiro

A Redenção de Cam é uma pintura a óleo sobre tela realizada pelo pintor espanhol Modesto Brocos, em 1895. A obra aborda as controversas teorias raciais do fim do século XIX e o fenômeno da busca do "embranquecimento" gradual das gerações de uma mesma família por meio da miscigenação. Encontra-se conservada no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.[1]

Na obra de Modesto Brocos, em frente a uma pobre habitação, três gerações de uma mesma família são retratadas. A avó, negra, a mãe, parda, e a criança, fenotipicamente branca. A matriarca, com semblante emocionado, ergue as mãos aos céus, em gesto de agradecimento pela "redenção": o nascimento do neto branco, que será poupado das agruras e das memórias do passado escravocrata. A cena foi assim definida por Olavo Bilac: "Vede a aurora-criança, como sorri e fulgura, no colo da mulata - aurora filha do dilúvio, neta da noite. Cam está redimido! Está gorada a praga de Noé!".[1]

O título é uma referência ao episódio bíblico da maldição lançada por Noé sobre seu filho, Cam, e todos os seus descendentes, conforme relatado no livro do Gênesis. Punindo Cam por zombar de sua nudez e embriaguez, Noé profetizou que ele, Cam, seria "o último dos escravos de seus irmãos". Conforme relatado por Alfredo Bosi, a crença popular de que os descendentes de Cam seriam os povos de pele escura de algumas regiões da África, além das tribos que habitavam a Palestina antes dos hebreus, serviu por muito tempo como argumento de ideólogos e mercadores para validar, durante o período colonial e ao longo do império, o tráfico de escravos africanos para o Brasil. O pecado de Cam seria, assim, o evento fundador de uma situação imutável e a justa punição divina de todo um povo.[1]


O período em que a obra foi produzida foi marcado por intensas mobilizações cientificas (mesmo que muitas delas falaciosas); no entanto, ao fazer referência ao episódio bíblico narrado no livro da Gênesis, A Redenção de Cam parece apostar mais na religião do que na ciência para corroborar sua perspectiva. Há, na obra, uma perspectiva de corte religioso mais do que um olhar "cientifico"[2]. A obra reflete as ideologias racistas da época ao mostrar o branqueamento passado pela família como algo a ser louva por eles mesmos. Conforme apontam Tatiana Lotierzo e Lilia Schwarcz no artigo "Raça Gênero e Projeto Branqueador: 'A Redenção de Cam'", as mulheres da pintura - a avó negra e a mãe mulata - estão dispostas como se houvesse voluntarismo da parte nelas no processo de branqueamento que buscava extinguir seu próprio grupo étnico. A obra passou a ser a marca de uma época que, imbuída de um pensamento racialista, deixou marcas indeléveis na tradição brasileira[2].

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