quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

"DE ANGOLA PARA NEVES": CAPOEIRA ANGOLA E ENSINO DE HISTÓRIA PARA O FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE NEVENSE.

Boa tarde, querid@s!

passo para divulgar o Projeto de Extensão  "DE ANGOLA PARA NEVES": CAPOEIRA ANGOLA E ENSINO DE HISTÓRIA PARA O FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE NEVENSE.

Trata-se de um projeto a ser desenvolvido em parceria com o Bando Maré de Março de Capoeira Angola e Samba, grupo de capoeira daqui da comunidade.

Ofereceremos para a comunidade aulas de capoeira vinculadas ao ensino de história, tendo como objetivo refletir sobre as identidades culturais nevenses, com o objetivo político e social de repensar o estigma negativo que recai sobre a cidade, cuja expressão máxima é a denominação pejorativa "Ribeirão das Trevas".

Como projeto de extensão o objetivo principal é voltado para atender a comunidade do entorno do Campus, mas estendo o convite para estudantes e servidores que tiverem interesse em praticar capoeira conosco.

"Vamo que daqui pra Angola é longe"!!!

Axé!














































Cláudio H. P. Brandão
Professor Substituto - IFMG Ribeirão das Neves
(31) 9 9783-0393 

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Atividade de Filosofia: 2º ano Informática

Galera,

amanhã estarei ausente, pois tenho ortopedista.

O Heberton, a Milca ou o Emanuel acompanharão vocês no desenvolvimento da seguinte atividade:

(1) Vocês deverão ler o texto https://claudiomilho.blogspot.com.br/2018/02/voce-conhece-noam-chomsky.html

(2) Fazer um mapa mental sobre o texto individualmente

O mapa mental será recolhido no final da aula.

Bons estudos!

Você conhece Noam Chomsky?

Você conhece Noam Chomsky?

Noam Chomsky
Outro dia estava vendo um filme e vi uma cena que me chamou bastante atenção. Uma família não muito ortodoxa celebrava o aniversário de Noam Chomsky. Um dos filhos, colocando sua raiva para fora, brigava com o pai por eles celebrarem essa data. Seu argumento era que queria celebrar o Natal como faziam as outras crianças, e não o aniversário de Chomsky – cujo aniversário é próximo ao Natal. A resposta do pai foi contundente: “O que você prefere, celebrar um elfo mágico fictício ou celebrar o aniversário de um homem que luta pelos direitos humanos e pela compreensão entre as pessoas?”
A pobre criança não conseguiu encontrar palavras para reafirmar seu desejo de celebrar o Natal perante o tão poderoso argumento do pai. Não quero deslegitimar as crenças de milhões de pessoas, apenas refletir sobre algo que me chamou a atenção: eu vi esse filme, chamado ‘Capitão Fantástico‘, com vários amigos, e nenhum deles conhecia Chomsky. Mas quem, afinal, é Noam Chomsky?
Você conhece Noam Chomsky?

Contribuições de Noam Chomsky para a linguística

Noam Chomsky é um famoso linguista, filósofo, ativista e analista político, comumente relacionado às correntes mais radicais e críticas do pensamento político do seu país, Estados Unidos. A sua faceta mais conhecida é provavelmente a linguística. Chomsky desenvolveu a teoria, sobre a qual já foram escritas centenas de páginas, sobre a aquisição da linguagem.
Chomsky propôs que existe um dispositivo cerebral inato, com o qual nascemos, que nos permite aprender e utilizar a língua de forma quase instintiva. Sua proposta, ainda vigente e ensinada nas universidade, rompeu com todas as teorias anteriores que postulavam que a língua surgia somente por meio dos processos de aprendizagem.
Sua teoria assumia que existem alguns princípios gramaticais que são universais a todas as línguas. Essa teoria explica a rapidez com que as crianças aprendem a falar. Também explica por que praticamente todas as crianças seguem as mesmas etapas no aprendizado de uma língua e cometeram erros similares no processo.
“Caso após caso, vemos que o conformismo é o caminho fácil para o privilégio e o prestígio. A dissidência traz custos pessoais.”
-Noam Chomsky-

Ativista político

Há quem considere Chomsky o intelectual mais importante de nossos dias. Isso, em parte, se deve a seu lado ativista. Chomsky se considera anarquista da tradição anarcossindicalista e é um grande defensor da desobediência civil. Um dos exemplos que Chomsky usa para explicar suas ideias ativistas é o seguinte:
Imagine que você está caminhando por uma rua à noite. De repente, vê que do outro lado da rua uma pessoa está batendo em outra, em um ato de agressão. Sem pensar duas vezes, você procura uma faixa de pedestres para atravessar a rua e tentar ajudar a vítima. O semáforo de pedestres está vermelho. O que você faz?
Atravessar a rua com o semáforo vermelho é algo ilegal. Portanto, se você atravessar, está descumprindo a lei. Por outro lado, se não atravessar e ficar esperando até que o semáforo fique verde pode ser muito tarde para ajudar a vítima da agressão. Se esperar, não haverá tempo para ajudar a pessoa que está tomando uma surra.
A partir dessa história é possível perceber que, em alguns casos, não respeitar a lei pode ser benéfico. Sempre que houver um fim moral superior, pode ser inclusive necessário passar por cima das regras. No caso da história contada, o objetivo final é ajudar uma pessoa. Para Chomsky a ilegalidade que é proposta como algo estático não coincide com o que as pessoas consideram ilegal em seu interior. Em muitos casos, o ilegal deveria ser legal.
Noam Chomsky

Defensor dos direitos humanos

Quando ocorreu a Guerra do Vietnã, Chomsky iniciou uma série de críticas contra a falta de democracia nos Estados Unidos. Sempre defendeu que existe uma falta de coerência entre a opinião pública e as decisões políticas. Como já vimos na história anterior, ele é partidário de que as mobilizações populares coajam o poder público de forma que se obtenham ganhos reais.
Chomsky, apesar de se autodefinir como judeu, também criticou muito o estado de Israel, ainda que defenda a vida nos kibutz como uma alternativa social. Foi um dos maiores defensores do boicote a Israel promovido pelo movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e sanções). Esse movimento busca exercer uma pressão política e econômica para que Israel acabe com a ocupação israelense nos locais palestinos.
“Não deveríamos estar buscando heróis, deveríamos estar buscando boas ideias.”
-Noam Chomsky-
Defende que todas as pessoas deveriam participar da política. Não apenas os que trabalham com isso, sejam jornalistas, intelectuais ou políticos, todos têm direito de opinar. Uma de suas contribuições mais importantes foi a análise dos meios de comunicação. Algumas das suas conclusões estão listadas a seguir.
  • Os meios de comunicação desviam a atenção das pessoas dos problemas realmente importantes.
  • Para fazer com que uma medida inaceitável seja aceita, os meios de comunicação a introduzem gradualmente, a conta-gotas.
  • Para fazer com que uma decisão impopular seja aceita, a apresentam como “dolorosa mas necessária”, obtendo assim a aceitação pública no momento para uma aplicação futura.
  • Fazem uso do aspecto emocional para causar um curto circuito na análise racional da situação e no senso crítico dos indivíduos.
  • Promovem a crença entre o público de que o bom é ser estúpido, vulgar e inculto.
Noam Chomsky escrevendo em lousa
Se depois de conhecer um pouco mais sobre Noam Chomsky você também gostaria de comemorar seu aniversário, não se esqueça: é dia 7 de dezembro. Como dizia Chomsky: “Se você assume que não existe esperança, então está garantido que não há mesmo. Se você assume que há um instinto em direção à liberdade, então ainda há chance de mudar as coisas.”

Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/noam-chomsky/

Atividade de Filosofia: Integrado Informática 1º ano/2018

Boa tarde, galera!

Amanhã estarei ausente, pois tenho uma consulta com ortopedista.

Por isso, Heberton, Milca ou Emanuel acompanharão vocês no Laboratório de Informática para o desenvolvimento da seguinte atividade:

Elaborar uma Colagem Digital sobre o tema "Banalidade do Mal".

Como assim?

Pesquise no Google Imagens sobre "Colagem Digital". Vejam exemplos neste link: https://claudiomilho.blogspot.com.br/2017/09/oriente-o-inferno-do-ocidente.html

Como podem observar, tal como fazemos colagens com imagens recortadas de revistas, dessa vez nós vamos elaborar colagens por meio da criação digital. Ou seja, vamos selecionar imagens da internet e fazermos  colagens sobre o tema Banalidade do Mal.

Como fazer?

Pode usar o Power Point! Ou então, pode procurar no Google os vários sites que possibilitam fazer colagens online, como por exemplo o https://www.fotor.com/create/collage/


Esse trabalho deverá ser feito em trios de três pessoas!

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Sobre a banalidade do mal

Hannah Arendt (1906-1975) foi uma teórica política alemã, de origem judaica, que atuou também como jornalista e professora universitária. Escreveu livros como As origens do totalitarismo (1951), A condição humana (1958), Homens em tempos sombrios (1968) e Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal (1963) e é considerada uma das pessoas mais influentes do século 20.
Este artigo pretende fazer uma analogia entre as ideias expressas por Hannah Arendt em Eichmann em Jerusalém, o conceito sobre a banalidade do mal e o comportamento dos indivíduos nas redes sociais, que de certa forma replicam as análises desenvolvidas pela autora.
Adolf Eichmann foi um oficial da Gestapo nazista responsabilizado pela logística de extermínio de milhões de pessoas. Foi capturado na Argentina e julgado em Jerusalém no ano de 1961. Hannah Arendt foi enviada como correspondente pela revista The New Yorker para cobrir as sessões do julgamento tornadas públicas pelo governo israelense. Em 1963, com base nos artigos publicados pela The New Yorker, a autora publicou um livro sobre o julgamento e nele desenvolveu uma análise sobre Eichmann.
Um dos pontos polêmicos do livro é a maneira como a autora interpreta o comportamento de Eichmann, pois além de cobrir todo o processo do julgamento, ela ainda entrevistou pessoalmente o acusado. Segundo Hannah Arendt, Adolf Eichmann não era um monstro, alguém com um espírito demoníaco e antissemita. Ela o identificou como um burocrata, um sujeito medíocre, que de certa forma renunciou a pensar nas consequências que os seus atos poderiam ter. “Embora as atrocidades por ele conduzidas tivessem sido de uma crueldade inimaginável, ‘o executante era ordinário, comum, nem demoníaco, nem monstruoso’. Eichmann revelou-se, durante todo o processo, até os dias que antecederam sua morte por enforcamento, como uma pessoa incapaz de exercer a atividade de pensar e elaborar um juízo critico e reflexivo” (SIQUEIRA, 2011).
Uma analogia com o cotidiano
Segundo Hannah Arendt, Adolf Eichmann era um indivíduo comum, pertencente ao cidadão médio, que não possuía um histórico de violência e muito menos aparentava características de um caráter distorcido ou doentio. O oficial da Gestapo agia segundo o que acreditava ser o seu dever, executando suas ordens sem nenhum tipo de questionamento (seja para o bem ou para o mal), com o intuito de desenvolver a sua carreira profissional da melhor forma possível.
“Será que a natureza da atividade de pensar, o hábito de examinar, refletir sobre qualquer acontecimento, poderia condicionar as pessoas a não fazer o mal? Estará entre os atributos da atividade do pensar, em sua natureza intrínseca, a possibilidade de evitar que se faça o mal? Ou será que podemos detectar uma das expressões do mal, qual seja, o mal banal, como fruto do não-exercício do pensar?” (ARENDT, 2008).
Dessa forma, a autora defende que a massificação da sociedade e o totalitarismo permitiram o desenvolvimento de uma multidão que cumpria ordens sem questionar, uma massa incapaz de fazer julgamentos morais. Sob essa perspectiva, Eichmann não era tachado como um monstro, mas um funcionário zeloso que apenas cumpria com as ordens que recebia.
“O que tornava Eichmann uma aberração era o fato de ele nunca haver experimentado as exigências do pensamento diante dos acontecimentos. A questão que a filósofa se propõe a aprofundar, então, é a ausência do pensamento e sua possível relação com os atos maus” (Duarte, 2000, apud Andrade, 2010).
Mas qual o intuito de toda essa descrição, muito simples perante a complexidade da obra e do tema desenvolvido pela autora, do conceito de banalidade do mal? Gostaria de fazer uma analogia com o nosso cotidiano e as práticas desenvolvidas nos canais de comunicação, principalmente nas redes sociais.
Comportamentos camuflados
Começo com um simples exemplo: quantas vezes, no seu cotidiano, você compartilha uma mensagem/informação, sem saber se ela é verdadeira ou não, com os seus colegas de trabalho ou com amigos e familiares? Pense no constrangimento que você passaria caso alguém desacreditasse essa informação no momento em que você está falando. Agora compare com o que você tem feito nas redes sociais virtuais.
Alguma vez você pegou uma foto íntima de um conhecido e saiu por aí mostrando essa foto para todas as pessoas que você encontra no seu dia-a-dia – no ambiente de trabalho, na fila do supermercado ou num encontro com amigos mais próximos? Agora compare com o que você tem feito nas redes sociais virtuais.
Hoje em dia, para disseminar uma informação basta apertar o botão de enviar e/ou compartilhar. Mas a facilidade desse ato pode ser inversamente proporcional às repercussões e os efeitos que causamos na sociedade como um todo. A popularização da internet permitiu que tivéssemos acesso a uma quantidade inimaginável de informações. Da mesma forma, ela possibilitou que adotássemos determinados comportamentos sem o questionamento moral dessas ações, camuflados por nossos avatares e/ou perfis nas redes sociais ou “escondidos” dentro de um grupo de Whatsapp.
Comportamentos sem questionamento
Repito aqui uma citação para enfatizar o meu ponto de vista:
“O que tornava Eichmann uma aberração era o fato de ele nunca haver experimentado as exigências do pensamento diante dos acontecimentos. A questão que a filósofa se propõe a aprofundar, então, é a ausência do pensamento e sua possível relação com os atos maus” (Duarte, 2000, apud Andrade, 2010).
Até que ponto nós estamos sustentando padrões estéticos e comportamentos deploráveis simplesmente porque não analisamos as repercussões dos nossos atos? Assim, quais são os acontecimentos, as notícias e as mensagens compartilhadas, sem uma análise crítica da sua parte, que estão permitindo que você se torne uma pessoa ruim?
Lembre-se que, antes de pertencermos a um grupo de Whatsapp e ter um perfil numa rede social, somos seres humanos com a beleza da nossa individualidade e livre arbítrio. Utilize essas ferramentas para engrandecimento desses dois pontos que compõem o seu ser: fazer parte da humanidade e ser um indivíduo de características únicas.
Devemos sempre lembrar que o universo virtual não é um ambiente “separado” da nossa realidade, muito pelo contrário. Nesse sentido, qual a fronteira que separa os seus atos daqueles praticados por Eichmann? Quantos indivíduos tem a imagem manchada (quando muitas vezes arruinada) por falsas informações e momentos íntimos compartilhados por “todos” no ambiente digital. Hanna Arendt afirma que “o maior mal perpetrado é o mal cometido por Ninguém, isto é, por um ser humano que se recusa a ser pessoa”.
Reflita se suas ações são fruto de suas opiniões e pensamentos ou se você anda seguindo o fluxo de uma multidão que simplesmente replica comportamentos sem nenhum tipo de questionamento ou de análise das consequências.
Fontes:
André Duarte. O pensamento à sombra da ruptura: política e filosofia em Hannah Arendt. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
Hannah Arendt. Compreender: formação, exílio e totalitarismo. Belo Horizonte (BH): Companhia das Letras/Editora UFMG; 2008;
José Eduardo de Siqueira. “Irreflexão e a banalidade do mal no pensamento de Hannah Arendt”. Revista – Centro Universitário São Camilo – 2011; 5(4):392-400;
Marcelo Andrade. “A banalidade do mal e as possibilidades da educação moral: contribuições arendtianas”. Revista Brasileira de Educação v. 15 nº 43, jan./abr. 2010.
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Felipe Tessarolo é professor universitário

Fonte: http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/sobre-a-banalidade-do-mal/

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Dentro da cabeça de Noam Chomsky

Dentro da cabeça de Noam Chomsky

Estudioso que revolucionou a lingüística com modelos matemáticos para explicar a comunicação humana. Polemista afiado e ídolo da esquerda mundial. Conheça suas idéias, sua obra e por que há tanta gente interessada no que ele tem a dizer

Luís Augusto Fischer

Quando o naturalista inglês Charles Darwin observou os seres vivos e entre eles percebeu nexos e continuidades, combi-nando as idéias de evolução e de seleção natural, o mundo nunca mais foi o mesmo, porque nossa compreensão acerca da vida mudou. Do lingüista e pensador americano Avram Noam Chomsky se pode dizer o mesmo. Autor de mais de 70 livros traduzidos para mais de dez línguas, Chomsky também revolucionou sua área científica, a exemplo de Darwin.
Chomsky mudou o objeto de estudo da lingüística. Como tinha acontecido um século antes no domínio da natureza bruta, também na ciência da linguagem pouca gente tinha ousado alguma teoria unificadora. Chomsky o fez.
Lingüística é o estudo da linguagem, da gramática das diferentes línguas e da história desses idiomas. Quando Chomsky apareceu no cenário intelectual, esse ramo da ciência tinha vivido poucos avanços significativos. Para falar a verdade, dois. O primeiro foi a criação da tradição clássica, originada no mundo grego, que perdurou até o final do século 19. O segundo salto foi o estruturalismo, criado pelo suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913).
Na visão clássica, estudava-se uma língua só por meio dos textos escritos. Os lingüistas rastreavam registros escritos, desde as línguas antigas (latim, grego, aramaico) até alcançar o presente. Esse tipo de abordagem exigia estudiosos que dominassem várias línguas, fazendo descrições de cada caso. Havia pouca capacidade de generalização, ou seja, de transpor o conhecimento acumulado sobre uma língua para outra língua. Era uma abordagem enciclopédica, que considerava os registros escritos como o ponto alto de um idioma.
No começo do século 20, era essa visão normativa, com separação clara do que era certo e o que era errado, que dominava o estudo da língua. Quer dizer: o que importava não era saber como funcionava a linguagem, e sim estabelecer e perpetuar as formas tidas como corretas, socialmente prestigiadas. O exemplo brasileiro mais saliente dessa visão é o de Ruy Barbosa, o jurista e político cujos textos, até a metade do século passado, foram tidos como um exemplo de português culto. Essa visão também influenciava o ensino. Na escola, estudava-se a origem da língua (seus pais ou avós provavelmente tiveram aulas de latim) e as mudanças que ocorreram na língua-mãe, até chegar à língua moderna culta. Parecia impossível ensinar o idioma de outro modo.
Saussure inovou, comparando o aprendizado de uma língua a um jogo de xadrez. Numa partida em curso, qualquer pessoa pode tomar o lugar de um dos jogadores, porque as regras do jogo são poucas e bem conhecidas. Por isso, não importa muito saber como o cavalo foi parar ali, ou como a torre foi perdida. O que vale é saber que, dada a situação das peças e conhecidas as regras, a partida pode seguir, agora manejada por alguém que chegou depois do início. Assim é o aprendizado da língua, disse ele: ninguém tem que obrigatoriamente saber a história da língua para falá-la e escrevê-la aqui e agora.
Foi um golpe certeiro. O estruturalismo, como ficou conhecida essa modalidade de estudo da língua, foi tão bem recebido que se expandiu para outras áreas (a antropologia, por exemplo). Para os adeptos dessa visão, estudar uma língua é realçar as estruturas que a compõem e descrevê-las, sem ligar para a história que a trouxe do mundo primitivo até o presente. Estava aberto o caminho para uma abordagem científica da linguagem, porque não se tratava mais de caçar o certo e o errado, mas de tomar a língua como um objeto. Com isso, caía por terra a suposta superioridade de uma língua sobre outra.
Tal mudança tinha motivações concretas. Uma delas era o contato cada vez mais freqüente com línguas não oriundas nem do latim nem do grego. Com sua postura etnocêntrica e escritocêntrica, um lingüista clássico, defrontado com uma língua indígena puramente oral, sem registro escrito, nada podia fazer. O idioma morreria com o último falante nativo. (Anos depois, Chomsky disse que com a perda de uma língua se perde uma pista, talvez irrecuperável, para a solução do mistério da linguagem humana.) Mas, se ele quisesse conhecer o modo de ser daquela cultura, seria preciso outra atitude: gravar as falas dos índios, anotá-las e depois descrevê-las no maior detalhe possível.
O estruturalismo permitia essa revolucionária abordagem: não há aquela visão normativa, de certo e errado, nem necessidade de recorrer à história para entender o presente. A ênfase recai sobre a base empírica, sobre os dados de linguagem verificáveis. Pela primeira vez, a língua ganha estatuto científico, com autonomia em relação à moral, à cultura, aos bons costumes.
Como se faz um lingüista
A formação acadêmica de Chomsky é curiosa. Filho de professor de hebraico, ele dispunha de um conhecimento familiar da matéria, manejando o inglês e o hebraico com intimidade. Avram Noam nasceu em 7 de dezembro de 1928, em Filadélfia, Pensilvânia. Seu pai era William (originalmente, Zev) Chomsky, judeu russo que emigrou para a América em 1913, para não ser obrigado a servir no Exército. Sua mãe se chamava Elsie Simonofsky. Os dois tinham profundas relações com a tradição judaica, e William logo se tornou especialista na gramática do hebraico.
Noam passou por experiência escolar marcante. Dos 2 aos 12 anos, freqüentou um colégio inspirado nas idéias de John Dewey (1859-1952), filósofo americano que pregava um ensino livre de avaliações formais, a favor da criatividade, com desafios à inteligência e nenhuma caretice. Nesse clima, Noam escreve seu primeiro artigo, para o jornal da escola, sobre a queda de Barcelona, foco de resistência dos anarquistas, durante a Guerra Civil espanhola. Tinha 10 anos.
Tão positiva foi essa experiência de aprendizado libertário, que a passagem para uma escola tradicional, na adolescência, foi um choque. Lá ele aprenderia os horrores da avaliação emburrecedora e da doutrinação ideológica, que ele passou a combater de corpo e alma. Anos depois, em carta a seu biógrafo, ele comentava a consciência que começou a desenvolver ao descobrir-se torcedor do time de futebol da escola. “Por que eu estou torcendo por esse time? Eu não conheço essa gente, e eles não me conhecem. Então, por que eu torço? Bem, é o tipo da coisa que você é treinado para fazer. É uma coisa incutida em você. É uma coisa que leva ao ufanismo e à subordinação mental.” Mas seu pensamento libertário o isolava. No dia em que seu país bombardeava Hiroshima e Nagasaki, Chomsky estava em férias numa colônia da escola. Ele disse que se sentiu horrorizado, enquanto seus colegas comemoravam.
Bom leitor desde a infância, Chomsky teve uma formação particular. Aos 13 começou a freqüentar Nova York, onde tinha parentes, entre eles um tio, dono de banca de revistas, que funcionava como centro cultural informal. Era um sujeito de formação fraca, mas inteligente. Levado por parentes, freqüentou círculos anarquistas, tudo imerso no mundo cultural dos imigrantes judeus recém-vindos da Europa, gente com ótima formação cultural, embora ali trabalhassem em ofícios manuais.
Isso explica, em parte, por que Chomsky nunca foi marxista, muito menos leninista: ele sabia que havia brutalidade também do lado soviético. Desenvolveu ainda um senso agudo de leitor: para ele, pensadores marxistas como o húngaro Georg Lukács (1885-1971) não lhe soavam profundos, mas confusos. E a clareza e a simplicidade lhe parecem marcas essenciais das grandes idéias. Daí sua admiração por Dwight MacDonald, o ficcionista inglês George Orwell (1903-1950), e Bertrand Russell (1872-1970). Aliás, um dos raros elementos decorativos presentes na sala de Chomsky no Massachusetts Institute of Technology (MIT), o prestigiado instituto americano onde ele hoje leciona, é um pôster de Russell, admirado como filósofo, aliado das classes populares e crítico do papel da elite na reprodução ideológica de seu poder.
Por essa altura, ele passou a apoiar o sionismo, o movimento religioso e político, originado no século 19, que pregava o restabelecimento, na Palestina, de um Estado judaico. Mas é preciso ver que na época, antes da fundação do Estado de Israel, em 1948, ser sionista era ser de esquerda. Os sionistas de então acreditavam que o novo país seria uma sociedade solidária, com matizes socialistas que se configuraram nos kibutzim, colônias de produção coletiva e cooperação entre os palestinos e os judeus. Alguns anos mais tarde, quando começou a namorar sua futura esposa, Carol Schatz, enfrentou uma escolha difícil: seguir a carreira acadêmica ou migrar para Israel? Mas a maior aproximação com Israel foram algumas semanas passadas em um kibutz, em 1953.
Anos depois, sua posição sobre Israel foi tomada como anti-sionista. Mas foi a palavra que mudou de sentido. A partir da ocupação de territórios palestinos e árabes por Israel, ser sionista passou a significar apoio à política expansionista e antiárabe do Estado de Israel.
Na universidade, caminhou entre a filosofia e a lingüística, sem nunca perder de vista o debate e a prática da esquerda libertária não-comunista. Aprendeu árabe. Em 1947, quando estava decidindo sua especialidade, encontrou Zellig Harris, lingüista e pensador judeu americano que foi para ele um parâmetro moral, político e científico. Harris, também sionista, era estruturalista, e Chomsky aprendeu muito com ele. O suficiente para superá-lo.
Descobertas renovadas
Sua entrada para o MIT ocorreu em 1955. Universidade tecnológica com pouca tradição em humanidades e, por isso mesmo, livre da burocracia e da ciumeira tradicionais nas ciências humanas, o instituto não se importou com o fato de Chomsky ter uma formação híbrida de matemática, psicologia, filosofia e lingüística. Ele vai trabalhar numa atividade de que discordava, o desenvolvimento de uma máquina de tradução, para decodificar comunicações cifradas, na Guerra Fria.
A pesquisa tinha patrocínio de nada menos que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica americanas, mais a Nasa, a agência espacial. Para um esquerdista, era uma saia justa ideológica, que ele desvestiu com elegância: ao publicar o hoje clássico Aspectos da Teoria da Sintaxe, em 1957, o primeiro produzido no MIT, ele cita seus financiadores e declara que é permitida a reprodução daquele trabalho para “qualquer finalidade do governo dos Estados Unidos”.
A relação de Chomsky com governos nunca foi tranqüila. Ele rejeita sistematicamente convites oficiais, mesmo vindos de governos de esquerda. Ao Brasil, ele veio este ano, quando o Fórum Social Mundial o convidou – mas aí eram organizações não-governamentais.
No MIT, Chomsky desenvolveu uma crítica ao estruturalismo. Essa corrente concebia a linguagem como algo que se aprendia por imitação. Era uma teoria behaviorista, baseada na crença de que, em última instância, o ser humano não tem nada de inato, tudo é aprendido por adestramento. O maior formulador dessa teoria foi o psicólogo americano B.F. Skinner (1904-1990), famoso pela descrição de mecanismos de controle das ações humanas por estímulo e resposta.
Chomsky tem coceiras na alma quando ouve falar de adestramento, dada sua crença na criatividade humana. Em sua concepção, a linguagem é uma capacidade humana natural, inscrita no DNA. É a tese que defende em vários artigos e livros hoje clássicos, como Lingüística Cartesiana, em que toma o mote do racionalista francês René Descartes (1595-1650) sobre tal questão. Dizia Descartes: se uma criança for criada entre lobos, ela não desenvolverá a linguagem. Mas, se voltar ao convívio humano, tudo volta ao que deveria ser, e ela aprende a falar. Já um macaco, mesmo que seja criado apenas entre humanos, jamais desenvolverá a linguagem, que nele não é inata.
Pode parecer pouco, mas essa posição é revolucionária, ainda que recupere pensadores racionalistas e iluministas. Ao criticar Skinner, Chomsky estava não apenas discutindo lingüística, mas atacando a convergência entre o ponto de vista científico e o desejo de domínio das classes dominantes sobre as pessoas. Mais ainda, Chomsky estava mudando radicalmente a localização do objeto de estudo da lingüística: enquanto para os estruturalistas a língua era algo externo ao homem, para ele o foco era a capacidade inata da linguagem, porque ali, dentro de todos e de cada um, está um tesouro, que é preciso estudar. (Essa capacidade que faz você, leitor, entender esta frase que está lendo agora, frase que nunca tinha lido antes mas que faz sentido – esta capacidade é o objeto da lingüística chomskyana.)
Chomsky também diverge do empirismo dos estruturalistas. Para eles, a tarefa do lingüista consiste em descrever as línguas tal como se apresentam, na fala das pessoas ou nos textos. Para Chomsky, esse caminho positivista é um beco sem saída, ou melhor, um caminho sem fim: cada época, cada região e mesmo cada indivíduo sempre modificam um pouco a língua, de maneira que o trabalho seria uma catalogação infinita. Começou a falar alto a parte matemática de sua formação.
Chomsky postulou que se pode descrever algebricamente as línguas – ou melhor, a língua humana –, a partir de esquemas abstratos e não de dados colhidos em cada situação. Saiu da visão indutiva e passou à dedução: em vez de procurar as particularidades de cada língua, ele cogitou que, sendo manifestações de uma condição inata, as línguas devem guardar características universais, marcas de sua origem comum no cérebro humano.
Para descrever o processo cerebral que dava origem às frases, Chomsky postulou a tese de que a linguagem humana ocorre em dois níveis: uma estrutura profunda, na qual o raciocínio ocorreria sem o uso de palavras (mais propriamente, essa estrutura corresponderia ao que hoje concebemos como um software), e uma estrutura superficial, que são as frases que dizemos, pensamos e escrevemos. Entre os dois níveis haveria um conjunto de transformações, que o lingüista deveria descrever.
Um exemplo clássico. Tome duas frases: “João comprou o caderno” e “O caderno foi comprado por João”. Para um estruturalista, que só trabalha com a língua manifestada, observável diretamente, elas são muito diferentes. Já para Chomsky as duas frases seriam, apesar das diferenças óbvias, muito próximas, porque dizem a mesma coisa, descrevem a mesma ação, mudando a ênfase – a primeira começa a frase pelo agente da ação, enquanto a segunda inicia com o objeto (as formas ativa e passiva). Ou seja: na estrutura profunda, as duas frases seriam uma só. As transformações entre um estágio e outro é que seriam objeto do lingüista.
Vêm daí as nomenclaturas originais de sua teoria: ele queria descrever uma gramática (no sentido de conjunto de regras de funcionamento da língua) que fosse gerativa (capaz de gerar, no sentido matemático, todas as frases possíveis a partir de um conjunto limitado de regras e elementos) e transformacional (que descrevesse as regras de transformação entre as duas estruturas).
Militância política
A política sempre esteve presente na vida de Chomsky. Desde o jornal da escola, depois na vivência nas ruas da Nova York da Segunda Guerra, no debate sionista, na aproximação com grupos anarquistas. Sua atuação hoje é desdobramento da velha militância, marcada pelo anarquismo, pela perspectiva libertária, pelo racionalismo iluminista.
Na primeira contribuição relevante à prestigiosa revista The New York Review of Books, em 1967, ele escreveu um longo artigo, A Responsabilidade dos Intelectuais. Nele, Chomsky lembra que, 20 anos antes, lera um texto decisivo em sua formação, de Dwight MacDonald (1906-1982), jornalista de esquerda que formulava perguntas como: “Até que ponto os britânicos e americanos somos responsáveis pelos aterrorizantes bombardeios sobre civis, executados como uma simples técnica por nossas democracias ocidentais culminando em Hiroshima e Nagasaki, certamente um dos mais indizíveis crimes da história?”
Foi com essa inspiração que Chomsky construiu o que, para ele, era a tarefa central dos intelectuais: “Os intelectuais têm condições de denunciar as mentiras dos governos e de analisar suas ações, suas causas e suas intenções escondidas. É responsabilidade dos intelectuais dizer a verdade e denunciar as mentiras”. Era o ano de 1967, e os Estados Unidos estavam em guerra com o Vietnã.
Politicamente, Chomsky se define como anarquista. Mas ele tem uma visão própria do termo. Para ele, anarquismo é a convicção de que a obrigação de se explicar é sempre da autoridade, e que esta deve ser destituída caso não consiga fazê-lo. Trata-se de posição não ortodoxa, não partidária e certamente anticomunista, mas pela esquerda.
Para ele, capitalismo é um mercantilismo corporativo, controlado por empresas ajustadas com governos, que sempre intervêm a favor do capital, apesar da fantasia do livre mercado (inexistente, diz ele, nos Estados Unidos e em toda parte), e que exercem controle sobre a economia, a política, a sociedade e a cultura. Seu inimigo é o poder do capital e do Estado. Para ele, os indivíduos é que devem ser a medida das coisas.
Eremita solitário
A posição filosófica de Chomsky, em princípio, não tem relação com sua atividade científica, voltada para a busca do caráter universal da linguagem humana a partir de uma abordagem algébrica. Mesmo a semântica não importa. Sua famosa frase “Colorless green ideas sleep furiously” (“Idéias incolores verdes dormem furiosamente”, em português) representa a tese de que qualquer falante reconhece frases mesmo que sem sentido, o que seria uma prova da qualidade inata da linguagem. O Chomsky militante tem interesse no mundo social, ao passo que o cientista não quer saber dele diretamente. Só muito abstratamente, como ele costuma dizer, os dois universos se encontram. Um desses pontos de contato é o Iluminismo – a procura de universais, sejam eles lingüísticos ou republicanos. Outro é a fé na razão, que pode ser a razão filosófica ou a razão do bom senso. Ou o cosmopolitismo, tanto na aceitação da validade de qualquer língua humana quando na compreensão do valor de cada indivíduo.
Seus esforços em decifrar a linguagem humana são, por outro lado, semelhantes aos que dispende na denúncia do que lhe parece errado. Em 1967, ele escreveu: “A fraude e a distorção que cercam a invasão americana no Vietnã estão, agora, tão domesticadas que perderam seu poder de chocar. É portanto útil recordá-las, embora estejamos atingindo novos níveis de cinismo a toda hora e os evidentes motivos desse horror estejam sendo aceitos, com silenciosa cumplicidade, em nossos lares”. Se trocarmos Vietnã por Iraque, temos aí o texto que Noam Chomsky pode estar escrevendo neste exato momento.
Conferenciando para centenas de jovens na Austrália, metendo o bedelho nas crises do Oriente Médio ou escrevendo um artigo de lingüística, aí está Avram Noam Chomsky, temperamento eremita, que preferiria ficar quieto em seu canto, mas vive militando pelo mundo, denunciando o poder e espalhando solidariedade.
As frases que ilustram a reportagem foram extraídas de livros e entrevistas de Noam Chomsky. Colaborou Pedro de Moraes Garcez.

Para saber mais

PRINCIPAIS TRABALHOS NA ÁREA DA LINGÜÍSTICA
Aspectos da Teoria da Sintaxe, Armênio Amado, Portugal, 1995
O Conhecimento da Língua: Sua Natureza, Origem e Uso, Caminho, Portugal, 1994
O Programa Minimalista, Caminho, Portugal, 1999
ALGUNS TÍTULOS PUBLICADOS NO BRASIL DA ÁREA DA CRÍTICA CIAL E POLÍTICA
Novas e Velhas Ordens Mundiais, Scitta, São Paulo, 1996
Segredos, Mentiras e Democracia, Editora Universidade de Brasília, Brasília, 1997
O Que o Tio Sam Realmente Quer, Editora Universidade de Brasília, Brasília, 1999
A Minoria Próspera e a Multidão Inquieta, Editora da Universidade de Brasília, Brasília, 1997
O Lucro ou as Pessoas? Neoliberalismo e Ordem Global, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 2002
Banhos de Sangue, Noam Chomsky e Edward Herman, Difel, São Paulo, 1976
A Sociedade Global – Educação, Mercado e Democracia, Noam Chomsky e Heinz Dieterich, Editora da FURB, Blumenau, 1999
Propaganda e Consciência Popular, Noam Chomsky e David Barsamian, EDUSC, São Paulo, 2003
BRE CHOMSKY
O Instinto da Linguagem: Como a Mente Cria a Linguagem, Steven Pinker, Martins Fontes, São Paulo, 2002
Noam Chomsky: A Life of Dissent, Robert F. Barsky, MIT Press, Estados Unidos, 1997

Fonte:  https://super.abril.com.br/cultura/dentro-da-cabeca-de-noam-chomsky/